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Folha de S. Paulo - publicação em 20.1.2011
HÉLIO SCHWARTSMAN ARTICULISTA DA FOLHA
O plágio na academia é um problema grave, porque é a confiança que cimenta as bases do conhecimento científico. Se um pesquisador omite até a real autoria de um trabalho citado, como acreditar nos dados que ele reporta?
A teoria, porém, funciona melhor no papel do que no mundo real. Apesar de a desonestidade intelectual em princípio solapar as bases da ciência, ela corre solta nas escolas e universidades.
Pesquisa feita nos EUA pela revista "Education Week" revela que 54% dos estudantes reconhecem ter plagiado textos da internet. Uma outra sondagem, da "Psychological record", mostra que 36% dos alunos de graduação admitem a prática. Como muitos preferem esconder as coisas erradas, os números reais devem ser ainda maiores.
Como conciliar a forte carga moral contra o plágio e sua alta prevalência? Como diversas outras modalidades de mentira, o plágio faz escola porque compensa. Apenas pequena parte das ocorrências é detectada, das quais só uma fração gera punições.
Para 47% dos alunos entrevistados pela "Education Week", os professores preferem ignorar os casos de trapaça que descobrem.
Outra possível explicação é que o plágio entrou há pouco tempo para o rol das práticas condenáveis. Como ensina Jack Lynch, da Universidade Rutgers, até os séculos 17 e 18, a ordem era copiar os mestres tão fielmente quanto possível. A originalidade era vista como presunção, e dar nome à fonte não era absolutamente necessário.
Hoje, autores do calibre de Benjamin Franklin e Lawrence Sterne seriam considerados plagiadores seriais.
A situação só começou a mudar depois da querela dos antigos e dos modernos (século 17) e da explosão da indústria editorial (século 16).
Com a ascensão da burguesia, a originalidade e a invenção passam a ter valor. O primeiro direito estabelecido na Constituição dos EUA é o autoral e de patente. A ideia é que o progresso dependeria do reconhecimento dessas virtudes burguesas.
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