quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ibope aponta para término das eleições presidenciais em primeiro turno

Diferentemente, dos resultados da pesquisa do Datafolha, que concentrou seu levantamento em apenas um dia (27), o Ibope, cuja trabalho foi realizado nos dias 25,26 e 27, apresenta números favoráveis a candidata Dilma Rousseff, e sinaliza a possibilidade de vencer as eleições ainda em primeiro turno.

A pesquisa Ibope aparece no blog do jornalista da própria Folha de S. Paulo, Fernando Rodrigues, publicado nesta quarta-feira, 29 de setembro de 2010.

Ibope: Dilma 50% X 41% de todos os outros

petista ganharia no 1º turno se eleição fosse hoje

Pesquisa realizada pelo Ibope sob encomenda da CNI (Confederação Nacional da Indústria) nos dias 25 a 27 de setembro indica que Dilma Rousseff (PT) está com 50% contra 41% de todos os seus adversários somados. Se a eleição fosse hoje, a petista venceria no primeiro turno.

Para ganhar no primeiro turno é necessário ter, pelo menos, 50% mais 1 de todos os votos válidos (os dados apenas aos candidatos, descontados os brancos e os nulos).

Aqui todas as pesquisas eleitorais.

A pesquisa Ibope dá 27% para José Serra (PSDB). A candidata Marina Silva (PV) aparece com 13%. Os outros candidatos nanicos somados têm 1%. Há também 4% de brancos e nulos e 4% de indecisos.

Essa pesquisa Ibope foi realizada ao longo de 3 dias (25, 26 e 27). Não pode ser comparada com a pesquisa Datafolha, realizada apenas no dia 27 e que deu Dilma com 46%, Serra com 28% e Marina com 14%.

Ainda assim, o levantamento do Ibope (com 3.010 entrevistas e margem de erro máxima de 2 pontos percentuais) é um indicador de que o desfecho da eleição continua pendendo mais para o lado de Dilma Rousseff.  Por esse levantamento, a chance de a petista ganhar no primeiro turno está dada como fora da margem de erro.

A seguir, o gráfico com as várias pesquisas Ibope neste ano:

Outro dado interessante do Ibope é sobre a preferência partidárias dos eleitores brasileiros. O PT é disparado, com 27%, o preferido. Entende-se então o apelo à militância que Dilma Rousseff fez nos últimos dias. Trata-se de um apelo que o PSDB e José Serra teriam dificuldade para fazer, pois apenas 5% dos eleitores dizem preferir a sigla tucana. E só 3% afirmam preferir o PV, de Marina Silva. Eis os dados:


domingo, 26 de setembro de 2010

JORNAIS E POLÍTICA

Faltando apenas uma semana das eleições os jornais e revistas brasileiras finalmente se definem qual qual candidato a apóiam para a presidência da República - evidentemente nos governos dos estados em consequência. Por razões óbvias, diante das coberturas e dos discursos proferidos ao longo do período, os leitores destes meios certamente perceberam que José Serra foi tratado com diferença.

Nada a questionar, pois o jornalismo é um lugar também político, entretanto, o que não se deve esperar da mídia nacional e global é a imparcialidade, mas acima de tudo ética, a qual sinaliza ser honesto seguir a cartilha que diz respeito aos interesses sociais, e não somente atender aos anseios de grupos sociais, que conseguem interferir no curso do sistema político favoravelmente. Se o jornal Folha de São Paulo e Revista Veja não declaram o partido e o candidato, contudo, não há margem para incertezas. Por sua vez o Estado de São Paulo explicita seu apoio em editorial.

Texto publicado pelo Jornal O Estado de São Paulo, domingo (26), setembro de 2010.

Jornais e revistas condenam críticas de Lula à imprensa na campanha eleitoral

Estadão, Folha, Globo e Veja se posicionaram de forma crítica; só IstoÉ foi na linha contrária


Os principais jornais e revistas do país condenaram hoje as críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sobre o trabalho da imprensa nas eleições presidenciais do próximo domingo. "Lula e a candidata oficial têm-se limitado até aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, embora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no exercício do cargo que pretendem intercambiar", destacou a "Folha de S.Paulo" em um editorial intitulado "Todo poder tem limite".
O editorial remete a uma declaração de Lula, quem em um comício da candidata petista à Presidência, Dilma Roussef, afirmou que alguns meios de comunicação "são uma vergonha", pois, segundo ele, "se comportam como um partido político", mas não têm coragem para dizê-lo.
O presidente contestava informações que, nas últimas semanas, revelaram escândalos de corrupção no Ministério da Casa Civil, que até março passado era liderado pela candidata petista. Os escândalos custaram o cargo da sucessora de Dilma, Erenice Guerra, que acabou renunciando, pressionada pelas denúncias.
O editorial da "Folha" ressalta que "os altos índices de aprovação popular do presidente Lula não são fortuitos", assim como as pesquisas que apontam o claro favoritismo de Dilma para as eleições de 3 de outubro, graças ao carisma do governante. O jornal reconhece que isso resulta da gestão do atual Governo, que manteve "uma política econômica sensata" e "ampliou uma antes incipiente política de transferências de renda aos estratos sociais mais carentes", reduzindo a desigualdade social. No entanto, o editorial sustenta que "nem por isso seu governo pode julgar-se acima de críticas".
Na mesma linha se manifestou a "Carta ao Leitor" da edição desta semana da revista "Veja", um dos meios mais críticos a Lula. A publicação condena a "deformação" do ponto de vista do Governo, que atribui a "convicções de alguns que continuam ruminando a ideia totalitária do leninismo, segundo a qual Governo e povo se confundem e, portanto, a imprensa não tem o direito de criticar as autoridades". Segundo a "Carta ao Leitor", por denunciar os casos de corrupção na Casa Civil, a "Veja" e os grandes jornais do país foram tachados de "golpistas", porque a notícia poderia ter o "potencial para tirar votos da candidata oficial".
Opinião parecida foi manifestada pelo jornalista Merval Pereira, colunista do jornal "O Globo", quem na semana passada lançou o livro "O Lulismo no Poder", no qual analisa o que percebe como traços de autoritarismo do Governo do PT. Em sua coluna de hoje, Merval afirma que o recente caso de corrupção na Casa Civil "leva a crer que, ou presidente não sabe escolher seus assessores - o que coloca uma dúvida sobre a escolha de Dilma como sua candidata -, ou não consegue controlar sua equipe". "Lula é o sujeito mais enganado do mundo. Ou o que mais engana. Ou se acha capaz de enganar todo o mundo", critica Merval Pereira.
O jornal "O Estado de S.Paulo" também dedicou opinião sobre o assunto, em seu editorial "O mal a evitar", no qual declara apoio aberto ao candidato opositor José Serra, do PSDB. Para o periódico, Lula "tem o mal hábito de perder a compostura quando é contrariado" e "também todo o direito de não estar gostando da cobertura" que "quase todos os órgãos de imprensa" tem dado à "escandalosa deterioração moral do Governo que preside". "Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o 'Estado' apoia a candidatura de José Serra", por seus "méritos", "seu currículo exemplar" e "pelo que ele pode representar para a recondução do país ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos", indicou.
Na grande imprensa brasileira, o único veículo que apresentou hoje uma posição diferente foi a revista "IstoÉ", também em editorial. Em aparente alusão à imprensa, a revista diz que "diversos agentes envolvidos no processo eleitoral não deram ouvido e espaço à voz das ruas e a atacam de maneira visceral e virulenta pela opção seguida. Como se ela estivesse errando pelasimples razão de escolher".

sábado, 25 de setembro de 2010

Chávez e a democracia dos pobres

A América Latina continua um lugar desconhecido por uma sociedade que viveu colonizada por séculos. Entretanto, há mudanças no cenário político, com certa vantagem para ações voltadas para o atendimento da população mais pobre. Em essência, a região passa por ruptura nas pirâmides sociais.


Neste sentido, Hugo Chávez se mantém no poder, assim como Evo Morales e outros presidentes da região. Abaixo texto que trata do tema, com análises que foge ao senso comum e idéias de mercado definidas pelos meios de comunicação brasileiros. Publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010.

CLÓVIS ROSSI

Chávez ganha com afeto de pobres

Uso da máquina pública, do Exército e uma oposição acuada não são a completa explicação para sua vitória


CARACAS - ATÉ a oposição admite que o presidente Hugo Chávez fará a maioria na Assembleia Nacional a ser eleita amanhã. Na melhor das hipóteses, espera chegar a 67 das 165 vagas em jogo, o que impediria o presidente de governar por decreto, o mecanismo pelo qual toca à frente seu projeto de "socialismo do século 21".
A nova vitória de Chávez será, se confirmada, a 13ª em 15 consultas populares, incluídos referendos, nos 11 anos de reinado.
Chávez ganha porque usa impudicamente a máquina pública? Sim. O Conselho Nacional Eleitoral acaba de divulgar, por exemplo, que a TV pública (VTV, Venezolana de Televisión) dedicou 90% de seus espaços informativos para o governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).
Até o Exército entrou na campanha do PSUV, usando sua rede capilar em todo o país.
Chávez ganha porque acuou a oposição, retirando poderes e funções de eleitos oposicionistas, e atacando a mídia? Sim, também.
Mas Chávez ganha, acima de tudo, porque seu "vínculo afetivo com um setor do país continua sendo muito poderoso", como admite Teodoro Petkoff, talvez o mais lúcido dos oposicionistas, um ex-guerrilheiro que transitou para a ortodoxia econômica e hoje é editor do jornal de oposição "Tal Cual".
Um só dado basta para explicar a solidez do "vínculo afetivo": a pobreza, nos anos Chávez, caiu de 49% para 26,4% da população, segundo o presidente do Instituto Nacional de Estatísticas, Elías Eljuri.
É verdade que a oposição contesta o número, mas não o fato de que a pobreza se reduziu.
Mais: os pobres têm a sensação de que deixaram de ser "invisíveis", ao contrário do que ocorria nos anos 90, período de decadência da democracia e da economia venezuelanas.
A questão chave da eleição de amanhã, portanto, é menos o número de assentos que a oposição conquistará (hoje, tem dez cadeiras, de ex-chavistas, porque cometeu a estupidez de não ter se apresentado no pleito de 2005).
Decisivo, mesmo, é saber se o modelo populista travestido de "socialismo do século 21" tem fôlego para continuar a conquistar o afeto da maioria.
As previsões não são nada favoráveis: afeto, como é óbvio no mundo inteiro, se conquista pelo bolso e o bolso dos venezuelanos estará entre 3% e 4% mais vazio este ano, de acordo com as previsões do economista Pedro Palma, ligado à Fedecámaras, a central empresarial.
Consequência de uma segunda queda consecutiva da economia, com o que a Venezuela "socialista" destoa totalmente do resto da América Latina "capitalista", que vai crescer 4%, na média.
O que não vai diminuir é a violência -que atinge mais os pobres, como no Brasil. No ano passado, um venezuelano foi assassinado a cada meia hora. A taxa de homicídios é de 75 por 100 mil habitantes, o dobro da Colômbia em guerra há meio século, três vezes mais que o assustado Brasil.
A eleição de amanhã acabará medindo o tamanho do afeto e da erosão que as dificuldades causam nele. Mas não reduzirão o ímpeto revolucionário de Chávez, que, no encerramento da campanha, já avisou ao país que está "esquentando os motores" para 2012, ano da eleição presidencial.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lula questiona posicionamento da mídia

Ninguém imagina a mídia longe do debate político, entretanto, nesta eleições algumas grandes empresas de comunicação decidiram participar efetivamente do processo eleitoral, agendando assuntos que atacam o governo federal e valoriza a imagem da oposição. Não razão para questionar as denúncias feitas pelos jornais - embora faça parte de estratégia política -, que são necessárias na busca de representar os interesses sociais, ao torná-las públicas. 

Mas de qualquer forma há excessos de um lado, que é contra atacado pelos Petistas, liderados pelo presidente da república. A democracia diz respeito ao espaço social e não simplesmente de liberdade para domínio autoritário institucional.


A concentração do poder de empresas de comunicação no Brasil é fato, com ampliação do poder de difusão de notícias e pode simbólico. Abaixo crítica de Lula. Matéria publicado pelo jornal Estado de Minas, quinta-feira, 23 de setembro de 2010.



Para Lula, imprensa deveria assumir que tem candidato Presidente afirma que, no Brasil, nove ou 10 famílias dominam a mídia brasileira


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a fazer duras críticas à imprensa, rebateu acusações de autoritarismo e reafirmou seu papel de líder partidário simultâneo ao de chefe de Estado, em longa entrevista concedida ao portal Terra, cuja primeira parte foi publicada na manhã desta quinta-feira. Lula sugeriu que a imprensa "deveria assumir categoricamente" que tem candidato e partido, deixando de "vender uma neutralidade disfarçada". O presidente assumiu um tom cauteloso ao responder se Dilma Rousseff (PT) será eleita já no primeiro turno da eleição.

"A imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido, que falasse. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", afirmou o presidente da República. Questionado sobre os ataques feitos anteriormente à imprensa, Lula disse duvidar "que exista um país na face da terra com mais liberdade de comunicação do que neste país, da parte do governo".

"Agora, a verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse país. A verdade é essa. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais...", afirmou o presidente. Para ele, "muita gente" não teria gostado do fato de seu governo ter distribuído os recursos para publicidade para imprensa entre vários Estados brasileiros. "Hoje, o jornalzinho do interior recebe uma parcela da publicidade do governo."

Para Lula, "o que acontece muitas vezes é que uma crítica que você recebe é tida como democrática e uma crítica que você faz é tida como antidemocrática". "Ou seja, como se determinados setores da imprensa estivessem acima de Deus e ninguém pudesse ser criticado", disse o presidente. No entendimento de Lula, "a posição de um presidente é tomada como ser humano, jornalista escreve como ser humano, juiz julga como ser humano. Ou seja, temos um padrão de comportamento e julgamento e, portanto, todos nós estamos à mercê da crítica".

Num trecho da entrevista, o presidente disse que, independentemente de quem seja o futuro presidente da República, um novo marco regulatório de telecomunicações precisa ser discutido. "E as pessoas, ao invés de ficarem contra, deveriam participar, ajudar a construir, porque será inexorável", afirmou. "Discutir isso é uma necessidade da nação brasileira. Uma necessidade dos empresários, dos especialistas, dos jornalistas, ou seja de todo o mundo para ver se a gente se coloca de acordo com o que nós queremos de telecomunicações para o futuro do país."

Eleições
Sobre as críticas ao seu comportamento como líder partidário, Lula disse que "não é possível o presidente da República agir como magistrado. "Agora, quando chega época de eleição não é possível o presidente da República ficar como magistrado porque eu tenho um lado. Eu tenho um partido e tenho candidato", afirmou. Ao ser questionado se não tem interferido no processo eleitoral ao adotar esse comportamento, o presidente Lula rebateu: "Deveria ser cobrado quem perdeu. Quem não conseguiu fazer o sucessor, porque o sucessor é uma das prioridades de qualquer governo para dar continuidade a um programa que você acredita que vai acontecer".

Lula disse ter medo que o Brasil "sofra um retrocesso" caso sua candidata não seja eleita. "Por isso que eu tenho candidato. Seria inexplicável para a sociedade se eu entrasse numa redoma de vidro e falasse: olha, aconteça o que acontecer nas eleições, o presidente da República não pode dar palpite. Mas nem para escolher o Papa acontece isso", afirmou o presidente.

Lula mostrou cautela sobre a possibilidade de Dilma Rousseff já vencer no primeiro turno da eleição, no próximo dia 3. "O que eu acho extremamente importante é que nesse processo eleitoral, a gente precisa primeiro ter muita cautela. Esse é o momento de um time que está ganhando de dois a zero. O adversário está dando botinada, está chutando no peito, está chutando na canela, o juiz não está apitando falta e nós não podemos perder a cabeça, porque o que eles querem é expulsar alguém do nosso time, para a gente ficar em minoria", disse o presidente.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dinheiro e futebol

O jogador formado para ser mito vence a seriedade do técnico. Em essência esta é a realidade vivida pelo santos, que tem um elenco formado por jovens jogadores, com resultados surpreendentes dentro de campo, mas nem tanto fora dele, a rigor, os interesses dos cartolas falam mais alto do que o futebol. Na queda de braço entre Neymar, que deveria valer milhões, e Dorival Júnior, o fim surpreendente seria a consagração da ética e comportamento de equipe, mas o resultado foi o esperado. Venceu o dinheiro, mais uma vez.

A pergunta agora é: qual o futuro do time e de Neymar? Conseguirá uma boa relação com os amigos em campo e com o próximo treinador? Deve dar o trivial: a perda de um mito, ainda bem.

Texto publicado pelo Jornal Estado de São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010.

Santos fica do lado de Neymar e demite Dorival Júnior

Diretoria afirma que não foi consultada sobre manutenção da punição ao jogador e dispensa treinador por insubordinação



Ernesto Rodrigues/AEDorival Júnior não é mais o técnico do Santos. A cúpula ficou encurralada com a decisão do treinador de manter Neymar afastado por tempo indeterminado, tirando a principal arma do time do clássico contra o arquirrival Corinthians, às 22 horas desta quarta-feira, na Vila Belmiro, e resolveu demiti-lo, após reunião de quase três horas. O receio era o desgaste político que atual administração sofreria no caso de uma derrota se Neymar não estivesse em campo.
Ernesto Rodrigues/AE
Dorival disputou 61 jogos pelo Santos


O ex-volante Narciso, técnico do sub20, deve dirigir o time interinamente até a contratação de um novo técnico. A informação foi confirmada por fontes ligadas à diretoria, que não se pronunciou até o fim da noite desta terça-feira. Com a queda do técnico, Neymar está confirmado no clássico.
Nas primeiras horas da noite desta terça-feira os principais dirigentes do futebol e assessores com muito poder se reuniram com o vice-presidente da diretoria Odílio Rodrigues no Hotel Recanto dos Alvinegros, anexo ao Centro de Treinamento Rei Pelé e onde os jogadores estão concentrados à espera do clássico com o Corinthians, na Vila. O presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro não estava presente porque está internado em um hospital da capital para fazer uma pequena cirurgia para remoção das bolsas das pálpebras, mas participava por telefone. Dorival Júnior também não participou.
Depois que Neymar xingou Dorival Júnior, Edu Dracena e Marquinhos durante o jogo contra o Atlético-GO, quarta-feira passada, na Vila Belmiro, o clube passou a viver um verdadeiro inferno. Na reunião da sexta-feira passada, o treinador exigia a punição do garoto mimado por tempo indeterminado. A diretoria empurrou com a barriga para ganhar tempo. No sábado cedo, um batalhão de dirigentes procurou mostrar ao treinador que o patrimônio mais valioso do Santos estava sendo exposto de maneira negativa e que em caso de uma punição mais drástica, o candidato a mito ficaria com a imagem desgastada. Dorival se manteve irredutível, diante da indignação do seu braço direito, o auxiliar técnico Ivan Izzo. Ele não perdoa a ousadia de Neymar ao atirar isotônico na sua direção durante discussão nos vestiários, após o jogo de quarta.
De um jeito ou de outro, ficou decidido na reunião de sábado que Dorival Júnior mais uma vez não falaria com a imprensa para não dar detalhes sobre a punição de Neymar. Para efeito externo, seria por tempo indeterminado e com nova rodada de negociações entre o técnico e os dirigentes na segunda-feira. Mas internamente foi combinado que Neymar não treinaria no domingo, apareceria de surpresa em Campinas e, num gesto de arrependimento, voltaria a pedir desculpas a todos e até participaria da oração do time pouco antes do jogo. Tudo saiu perfeito. Por pouco Neymar não jogou contra o Guarani, sob a alegação de que Marcel teve indisposição (estava gripado) durante o aquecimento. Tudo corria normalmente até que nesta terça à tarde, quando Dorival Júnior repensou o seu futuro como treinador e fez valer o seu perfil de homem correto e rompeu o acordo, tirando Neymar do clássico contra o Corinthians.
A decisão foi difícil demais para o treinador, que demonstrou nervosismo durante a coletiva de imprensa. Nela ele repetiu que vem sendo um gerenciador de problemas no Santos, referindo-se aos seguidos atos de indisciplina que teve que enfrentar durante o período em que Robinho esteve no Santos e depois de sua segunda passagem pelo clube. "Vamos dar um tempo para que Neymar se recupere em todos os sentidos. Estou fazendo o melhor para o atleta. É bom para ele e para o clube não sei", disse o treinador na coletiva de imprensa. Ele revelou ter conversado com treinadores com maior rodagem antes de tomar a decisão durante o desinteressante rachão desta terça à tarde, no CT Rei Pelé. Em alguns momentos, ele parecia aliviado por não ter compactuar com a indisciplina e a insolência de um garoto de 18 anos e por não ficar marcado como um treinador frouxo, comprometendo sua carreira que em apenas sete meses foi enriquecida com os títulos do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, além de ter montado o time mais badalado do país nos últimos anos.

Governo e imprensa

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não recua na busca de levar os principais jornais do país à justiça, num cenário de ruptura com a imprensa local. Apesar das publicações de críticas de antidemocrático, o governo se posiciona com firmeza, o que poderá criar mudanças na estrutura dos meios de comunicação argertinos.

Texto publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo quarta-feira, em 22 de setembro de 2010.


Cristina aponta "crimes" de donos de jornais
Argentina apresenta denúncia em que acusa os proprietários de "La Nación" e "Clarín" de homicídio e tortura

Casa Rosada diz que delitos foram cometidos nos anos 70, durante processo de compra de empresa de papel-jornal

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
O governo argentino da presidente Cristina Kirchner apresentou ontem uma denúncia formal à Justiça contra os dirigentes dos jornais "Clarín" e "La Nación", maiores veículos impressos do país, por crimes contra a humanidade ocorridos supostamente em 1976.
Conforme a denúncia, os delitos de "homicídio, extorsão, privação ilegítima de liberdade, tortura e associação ilícita" foram cometidos pelos dirigentes em cumplicidade com o último regime militar argentino (1976-1983) durante a negociação da empresa Papel Prensa.
Atualmente a fábrica produz 75% do papel-jornal consumido no país.
As ações da empresa que hoje pertencem aos jornais denunciados foram compradas na época da família Graiver, vítima da repressão estatal durante a ditadura.
Na versão do governo, os integrantes da família sofreram "intimidações e ameaças" que os obrigaram a assinar os contratos de venda.
Apesar de terem sido presos pelos militares somente após a negociação, a transferência das ações ocorreu quando os Graiver já estavam fragilizados e não podiam decidir, alega o governo.
O momento da prisão e as intimidações fizeram parte de um esquema "articulado pelos dirigentes dos jornais junto à cúpula do governo de fato", diz a denúncia, apresentada em nome do governo pela Secretaria de Direitos Humanos e pela Procuradoria do Tesouro -equivalente à Advocacia-Geral da União.
O documento entregue pelo governo à Justiça também apresenta relatos e testemunhos que consideram os jornais "Clarín" e "La Nación" meios de comunicação "associados com a ditadura" que foram "beneficiados" pelo "aparato clandestino de terrorismo do Estado" em outros negócios posteriores.
Ao denunciar os jornais, o governo se associou como denunciante a integrantes da família Graiver em um processo que já tramita em um tribunal de La Plata (Província de Buenos Aires). Nele investiga-se a negociação da Papel Prensa.
Junto com as informações que tentam incriminar os dirigentes dos jornais e ex-governantes do regime militar, o governo pediu à Justiça que interrogue os principais acionistas do jornal "Clarín", Ernestina Herrera de Noble e Héctor Magnetto, e o diretor de redação do "La Nación", Bartolomé Luis Mitre.
O pedido de interrogatório também se estende aos ex-dirigentes militares, em maioria já presos.

PLANO CONCRETIZADO
A denúncia concretiza o plano da presidente Cristina Kirchner, que mantém uma guerra declarada contra os dois jornais. Ambos os veículos adotaram uma linha editorial contrária ao governo em 2008.
Cristina já havia anunciado a intenção de processar os dirigentes dos dois diários no mês passado em um evento público.
Em um comunicado, os dois jornais afirmaram ontem que não houve delito algum na aquisição da Papel Prensa e que, em 27 anos de democracia, nunca surgiu outra denúncia semelhante.
A atitude do governo é "uma aberração moral e jurídica" que tenta intimidar veículos que não são alinhados politicamente, diz a nota.
"O governo insiste em mentir, reescrever a história e manipular os direitos humanos como ferramenta de perseguição e represália", afirma ainda o texto.

domingo, 12 de setembro de 2010

FOLHA NA CAMPANHA

Importante a análise de Suzana Singer, Ombudsman do Jornal Folha de S. Paulo, sobre a busca de bom senso na cobertura do diário nas eleições presidenciais. A crítica contra o jornalão é intensa em todos país, principalmente nas redes sociais, em especial no twitter (45 mil mensagem de desaprovação do seu noticiário político). Texto publicado, domingo, 12 de setembro.


OMBUDSMAN

SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman
O ATAQUE DOS PÁSSAROS

A manchete de domingo desencadeou uma onda anti-Folha no Twitter, que o jornal ignorou


A FOLHA VEM se dedicando a revirar vida e obra de Dilma Rousseff. Foi à Bulgária conversar com parentes que nem a candidata conhece, levantou a fase brizolista da ex-ministra, suas convicções teóricas e até uma loja do tipo R$ 1,99 que ela teve com uma parente no Sul. Tudo isso faz sentido, já que Dilma pode se tornar presidente do Brasil já no primeiro escrutínio que disputa.
Mas, no domingo passado, o jornal avançou o sinal ao colocar na manchete "Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma". O problema nem era a reportagem, que questionava a falta de iniciativa do Ministério de Minas e Energia para mudar uma lei que acabava por beneficiar com isenção na conta de luz quem não precisava.
Colocar uma lupa nas gestões da candidata do governo é uma excelente iniciativa, mas dar tamanho destaque a um assunto como este não se justifica jornalisticamente.
Foi iniciativa de Dilma criar a tal Tarifa Social? Não, foi instituída no governo Fernando Henrique Cardoso. É fácil mexer com um benefício social? Não, o argumento de que faltava um cadastro de pobres que permitisse identificar apenas os que mereciam a benesse faz muito sentido. Existe alguma suspeita de desvio de verbas? Nada indica.
O lide da reportagem dava um peso indevido ao que se tinha apurado. Dizia que a propaganda eleitoral apresenta a candidata do PT como uma "eficiente gestora", mas que "um erro coloca em xeque essa imagem". Essa tem que ser uma conclusão do leitor, não do jornalista.
Uma manchete forçada como a da conta de luz, somada a todo o noticiário sobre o escândalo da Receita, desequilibrou a cobertura eleitoral. Dilma está bem à frente nas pesquisas de intenção de voto e isso é suficiente para que se dê mais atenção a ela do que a seu concorrente, mas, há dias, José Serra só aparece na Folha para fazer "denúncias". Nada sobre seu governo recente em São Paulo. Nada sobre promessas inatingíveis, por exemplo.
Os leitores perceberam a assimetria. Durante a semana, foram 194 mensagens à ombudsman protestando contra o noticiário, mas o maior ataque ocorreu no Twitter, a rede social simbolizada por um pássaro azul, que reúne pessoas dispostas a dizerem o que pensam em 140 caracteres. Até quinta-feira passada, tinham sido postadas mais de 45 mil mensagens anti-Folha.

CRIATIVIDADE
Os internautas inventaram manchetes absurdas sobre a candidata de Lula: "Empresa de Dilma forneceu a antena para o iPhone 4", "Dilma disse para Paulo Coelho, há 20 anos: continue a escrever, rapaz, você tem talento!", "Serra lamenta: a Dilma me indicou o Xampu Esperança" e "Errar é humano. Colocar a culpa na Dilma está no Manual de Redação da Folha".
O movimento batizado de #Dilmafactsbyfolha virou um dos assuntos mais populares ("trending topics") do Twitter em todo o mundo, impulsionado, em parte, pela militância política -segundo levantamento da Bites, empresa de consultoria de planejamento estratégico em redes sociais, 11 mil tuítes usaram um #ondavermelha, respondendo a um chamamento da campanha do PT na rede. Até o candidato a governador Aloizio Mercadante elogiou quem engrossou o coro contra o jornal.
Mas é um erro pensar que apenas zumbis petistas incitados por lideranças botaram fogo no Twitter. O partido não chegou a esse nível de competência computacional.
Na manada anti-Folha, havia muito leitor indignado, gente que não queria perder a piada, além de velhos ressentidos com o jornal.
Não dá para desprezar essa reação e a Folha fez isso. Não respondeu aos internautas no Twitter e não noticiou o fenômeno. O "Cala Boca Galvão" durante a Copa virou notícia. No primeiro debate eleitoral on-line, feito por Folha/UOL em agosto, publicou-se com orgulho que o evento tinha sido um "trending topic". Não dá para olhar para as redes sociais apenas quando interessa.
A Folha deveria retomar o equilíbrio na sua cobertura eleitoral e abrir espaço para vozes dissonantes. O apartidarismo -e não ter medo de crítica- sempre foram características preciosas deste jornal.

domingo, 5 de setembro de 2010

MÍDIA, RECEITA E DENÚNCIAS

Período de eleições é o momento dos escândalos aparecerem, cujo objetivo é criar espaço de debate público que culmine com prejuízos para uma parte. Em meio as verdades os interesses formam uma aura de dúvidas, afinal seria mesmo ingenuidade acreditar que o poder é um lugar em que a assepsia está em todos os cantos. Certamente, as denúncias atingiram e atingirão governos ao longo da história. Não se trata de naturalizar a falta de moral e ética contra o público, mas analisar o tempo dos fatos conforme suas relações. 

A participação da mídia na busca pela transparência é fundamental, entretanto, no período eleitoral as empresas de comunicação se investem tanto na defesa partidária (salvo exceção) que a informação se mistura com desinformação, com prejuízos absolutos para a formação livre de pensamento. Desta forma, no jornal paulista, Folha de S. Paulo de hoje (domingo-5) dois olhares.

*** 

JANIO DE FREITAS

Eleições criminais

Não há motivo para supor que das investigações resultarão consequências exigidas pelas leis

OS FATOS e os não-fatos já mencionados, em torno de dados sigilosos de pessoas ligadas a José Serra, não exigem imparcialidade virtuosa para a percepção de que, até agora, tanto poderiam proceder de um lado como de outro na disputa pela Presidência.
Assim como a petistas seria possível ocorrer a violação e o uso de sigilos para comprometer Serra, aliados de Serra poderiam pensar na montagem de um ardil para incriminar a candidatura de Dilma Rousseff. E, por ora, não se tem indício, com alguma confiabilidade, contra um lado ou outro. O que há, nesse sentido, são preferências infiltradas no noticiário e dando-lhe o tom, ainda que parte delas seja mais por precipitação do que por motivos eleitorais.
A última contribuição desse estranho personagem Antonio Carlos Atella Ferreira, que tanto perde na memória atos inesquecíveis como os recobra com rápida e fácil dubiedade, é ilustrativa do momento indefinido. "Vou fazer a vida com essa historinha", lema que expôs logo ao ser identificado como parte do embrulho, é uma proclamação de caráter e intenções, para não dizer de objetivo de vida. A curiosidade se oferece: ainda não fez a vida?
A filiação de Atella ao PT traz para o caso mais uma peça amorfa, sujeita a questionamento: a Justiça Eleitoral. Como é possível que só seis anos depois da filiação o Tribunal Regional Eleitoral-SP a tenha "excluído" por incorreção no registro?
No intervalo 2003-2009, houve eleições para prefeito, governo do Estado, presidente da República e ainda para vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. Em São Paulo, a maior concentração da Justiça Eleitoral no país não sabia quais filiações partidárias eram corretas ou não? Logo, não seria estranho haver irregulares entre os candidatos e até entre os eleitos.
E quanto a Atella Ferreira, como e por que veio a saber da incorreção, afinal? Descoberta havida em momento tão propício para engrossar o caso, dois meses depois da quebra do sigilo de Verônica Serra em que é coautor, com o próprio nome a indicá-lo na fraude. A Justiça Eleitoral deve explicações.
Desde 1982, quando o SNI, o candidato Moreira Franco, integrantes do departamento de jornalismo da Globo e a empresa de informática Proconsult se uniram para fraudar a eleição no Estado do Rio, as eleições brasileiras são terreno de bandidismo eleitoral, do mais ordinário ao mais grave. Todos os episódios provocaram inquéritos de polícias estaduais e da Federal, do Ministério Público, da Justiça Eleitoral e da Justiça Criminal. Nenhum, jamais, levou a alguma das consequências determinadas pelas leis.
Estamos diante de mais um caso. Cercado de suspeições e hipóteses viáveis, em diferentes sentidos. Com toda a certeza, recheado de crimes graves, inclusive contra preceito da Constituição. Mas não há motivo para supor que das várias investigações resultarão as consequências exigidas pelas leis. Eleições, aqui, misturam-se muito com outros propósitos e atividades.

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SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br

@folha_ombudsman


À PROCURA DO VILÃO

PT E PSDB IMPUTAM UM AO OUTRO A CULPA PELA QUEBRA DE SIGILO FISCAL; CABE À IMPRENSA ESCLARECER ESSA HISTÓRIA

AS MANCHETES de jornal finalmente chegaram ao horário eleitoral gratuito. Para dar credibilidade ao escândalo da quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, os tucanos exibiram, na quinta-feira à noite, páginas da Folha e do "Estado de S. Paulo" falando do caso.
PSDB e PT jogam com a confusão: enquanto não se esclarece o episódio, tentam imputar culpa um ao outro. A Receita Federal, pelo que foi noticiado, não tem se pautado pela transparência nas investigações. A Polícia Federal ainda não mostrou resultados. Cabe, portanto, à imprensa colocar os inúmeros pingos nos "is" dessa história.
O principal deles é esclarecer a mando de quem foram remexidos os documentos da filha de José Serra.
As suspeitas recaem sobre o PT. Primeiro, pelo histórico: a espiada na conta bancária do caseiro Francenildo (2006), os "aloprados" com dinheiro vivo (2006), o levantamento de gastos pessoais de Ruth Cardoso (2008) e a recente descoberta, de junho, de que havia um dossiê com dados sigilosos de pessoas do PSDB nas mãos de um grupo da pré-campanha de Dilma Rousseff.
Outro agravante contra o partido do governo é a revelação de que o contador que entregou a procuração falsa de Verônica Serra era filiado ao PT, como revelou o "Jornal Nacional" de sexta-feira.
Há ainda o argumento da motivação: já que vários tucanos tiveram o sigilo violado, o responsável deve ser o inimigo nº 1.
São todos indícios, ainda não conclusivos. Petistas já espalharam que interessaria também a Aécio Neves reunir dados sobre o colega de partido que disputava com ele a vez de se candidatar à Presidência, em setembro do ano passado, quando a cópia da declaração do Imposto de Renda de Verônica foi obtida.

JORNALISMO DECLARATÓRIO
O primeiro passo para a imprensa agora é distanciar-se da troca de acusações. Basta registrar que Serra disse que "nos tornaremos todos francenildos" e que Dilma retrucou que "a oposição está desesperada". Da verborragia política, não sairá nada além disso.
Serra joga pistas, como dizer que dados da filha já estavam em "blogs sujos", mas não explica o que havia neles nem se foram obtidos por meio de ato ilícito. Dilma só se preocupa em minimizar o ocorrido -um "malfeito" na Receita, segundo ela- e em ficar o mais longe possível da lama que emerge a cada dia.
Chega de jornalismo declaratório. Mesmo aquele em "off", como fez a Folha na sexta-feira, ao manchetar "Serra diz ter feito alerta a Lula sobre ataques a sua filha". A afirmação do candidato teria sido feita a "aliados".
Reproduzindo as aspas acriticamente -sem indagar por que Serra não tornou esse fato público antes-, o jornal prestou um serviço ao tucano: permitiu que criticasse Lula, sem o ônus de atacar, na televisão, um presidente tão popular.
Não será tarefa fácil descobrir quem deu a ordem para levantar os dados de Verônica Serra, porque o principal personagem -o contador- tem se revelado um escroque, exigindo dinheiro para dar entrevistas e fazendo troça de seus minutos de celebridade.
A Folha não paga por informação, entrevista nem para que alguém pose para foto -e faz muito bem. Na hora em que o talão de cheques entra em cena, a confiabilidade da apuração cai por terra. É verdade que nenhuma informação passada a jornalistas é desinteressada, mas a motivada por dinheiro é a mais frágil de todas.
Sem por a mão no bolso e sem esperar revelações dos candidatos, a Folha está diante do desafio de achar o vilão desse enredo antes de 3 de outubro. Depois da eleição, o escândalo da filha do presidenciável se juntará ao dos aloprados e tantos outros, que estão hoje esquecidos ou foram atropelados por novas baixarias políticas.

Mexicanização

Seria ingenuidade imaginar que haja espaço para uma administração fora dos mercados, o qual foi seguido por Lula, longe de ser um defensor do socialismo. Entretanto, não se pode esconder a realidade com o objetivo de preservar domínios, sobre uma sociedade que se quer submissa e sem memória.


Editoriais
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O alerta de Lula
Há 14 anos, em artigo na Folha, o atual mandatário acenava com os riscos de "mexicanização" e uso abusivo da máquina pública

"Num país onde se pratica o fisiologismo explícito e o uso e abuso da máquina pública em proveito próprio, a reeleição pode conduzir a um processo de mexicanização". O alerta foi emitido em 1996 por Luiz Inácio Lula da Silva em artigo publicado pela Folha.
O líder petista, que havia dois anos perdera a eleição no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, mostrava-se preocupado. Via o risco de, aprovada a possibilidade de renovação do mandato, o PSDB transformar-se numa espécie de Partido Revolucionário Institucional -o PRI, que governou o México de 1926 a 2000.
Lula chamava a atenção para o peso desproporcional que os detentores do poder podem exercer num processo eleitoral por meio do aparelhamento o Estado e nebulosa arrecadação de fundos:
"O Estado mobiliza um conjunto de obras e recursos que podem ser postos a serviço de caixinhas eleitorais e troca de favores. Não é segredo para ninguém que as grandes obras públicas podem ser sobrefaturadas, e um significativo percentual delas acaba nas contas numeradas dos assessores dos mandatários, não para uso pessoal, dirão eles, é claro, mas para financiar a futura campanha. São rios de dinheiro [...] para fazer propaganda de campanha e programas mirabolantes, com a mais sofisticada técnica de comunicações para ludibriar o eleitorado".
Diante das pretensões da situação, favorável à continuidade de FHC para que o Brasil prosseguisse dando certo, Lula alfinetava: "E por que, então, não ressuscitar de uma vez o partido monarquista e colocar FHC no trono do Brasil para sempre?".
Como se sabe, aprovada e emenda da reeleição, o tucano conquistou mais um mandato e foi sucedido pelo próprio petista. Os artifícios retóricos e os argumentos que constavam do artigo de Lula poderiam, quase que integralmente, ser agora esgrimidos contra seu próprio governo.
De fato, poucas vezes na história republicana o fisiologismo foi tão explícito e subordinou-se tanto a máquina pública ao proveito partidário. Por certo, tornaram-se ainda mais caudalosos os rios de dinheiro vertidos na candidatura continuísta -e mais sofisticadas as técnicas de comunicação para "ludibriar o eleitorado".
Utilizou-as Lula, com sua vocação de animador de plateias, para inventar a herdeira que, sem nenhuma experiência eleitoral, poderá ocupar seu trono -ou melhor, a cadeira presidencial.
As recorrentes comparações com a história mexicana, que ora voltam à cena, podem ser úteis nos torneios verbais, mas não vão muito além disso. Por mais longos que possam ser os ciclos de grupos políticos no poder, as democracias evoluídas (o que não era o caso do México) acabam sempre por experimentar uma saudável alternância administrativa.
São os fundamentos desse sistema de governo que, acima de tudo, precisam ser fortalecidos no Brasil. Não há dúvida de que a experiência democrática em nosso país já atingiu padrões elogiáveis de funcionamento. É preciso porém cultivá-la para que não se perca em consensos perigosos -mais ainda neste momento em que o continuísmo político poderá consumar-se em inédita hegemonia.