sábado, 28 de agosto de 2010

JORNALÕES MUDAM DE SUPORTE

Mais um jornal, agora o USA Today, entra na era da internet em detrimento do papel, uma transformação inevitável para os próximos anos. Cada vez mais as pessoas acompanham o jornalismo através das novas mídias, o que revoluciona as empresas de comunicação, de olho na audiência e rendimentos publicitários.

Texto publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo, sábado, dia 28 de agosto de 2010.

"USA Today", 2º maior jornal dos EUA, prepara reforma radical
Publicação vai aumentar ênfase na criação de conteúdo para aparelhos móveis, como iPad
Publisher afirma que empresa evolui de companhia jornalística para uma de mídia multiplataforma
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O "USA Today", o segundo jornal de maior circulação dos Estados Unidos, vai fazer uma reformulação "radical", dando ênfase à criação de conteúdo para internet, celular e tablet.
Em apresentação para os funcionários anteontem, a publicação afirmou que vai "focar menos no jornal impresso e mais na produção de conteúdo para todas plataformas: internet, telefone celular, iPad e outros formatos digitais".
Uma das mudanças é que não haverá mais um editor exclusivo responsável pelas seções Notícias, Esportes, Dinheiro e Vida. A Redação será dividida em grupos de "anéis de conteúdo" -cada um deles será chefiado por um editor que será anunciado até o fim deste ano.
"Nós temos que ir aonde a audiência está", disse o editor do jornal, John Hillkirk.
"Se as pessoas estão usando o iPad feito loucas, ou o iPhone, ou outros aparelhos móveis, temos que estar lá com o conteúdo que elas querem, quando querem."
O "USA Today" também prepara corte de funcionários, com a demissão de 130 de seus 1.500 funcionários. A direção do jornal não divulgou o número de cortes por área, mas eles afetarão o setor comercial e a Redação.
"Isso é bastante radical", afirmou o publisher do "USA Today", Dave Hunke, sobre as alterações. "Elas nos deixam prontos para os nossos próximos 25 anos."
De acordo com ele, a reestruturação reflete a evolução do "USA Today" de uma companhia jornalística para uma empresa de mídia multiplataforma".
As mudanças no jornal são reflexo da queda da sua circulação e da receita com publicidade -que sofrem os efeitos da crise norte-americana. A circulação da publicação, que era de 2,3 milhões de exemplares diários em 2007 (quando era o maior dos EUA), caiu para 1,83 milhão no período de seis meses encerrado em março.
Grande parte da queda se deve ao recuo nas vendas em parceria com redes de hotéis, que respondem por mais da metade da sua circulação.
O posto de maior jornal dos EUA pertence agora ao "Wall Street Journal", o único dos grandes que conseguiu aumentar a sua circulação, para 2,09 milhões de exemplares diários.

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E não é só circulação do "USA Today" que vem caindo. A receita com publicidade também. O faturamento com anúncios ficou 29% menor em 2009 e continuou a se retrair neste ano: no segundo trimestre, o número de páginas com anúncio recuou 3,7%, após cair 11% nos três meses anteriores.
Para ter uma ideia, o jornal vendeu 580 páginas com publicidade entre abril e junho, quase metade menos do que no mesmo período de 2006, quando a economia dos Estados Unidos ainda não tinha entrado em crise.

O CINEMA NA ERA DA INTERNET

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FOTO: Wikimedia Commons

CINEMA - As mudanças tecnológicas vêm promovendo transformações nos espaços comunicacionais. Desta vez, a esperada queda no aluguel de filme pelas locadoras atingiu a maior empresa do setor a Blockbuster, globalizada. A internet que cada vez mais chega aos lares da população, permitindo com facilidade o acesso aos filmes e rapidamente. A pirataria está na esteira da comunicação on-line, que possibilita trocas de arquivos – gigante, diga-se de passagem - em programas livres na rede.

Em bem pouco tempo conseguir um bom filme exigia do cinéfilo uma peregrinação em várias locadoras, e reservas de espera para semanas ou meses. Hoje, algumas obras cinematográficas podem ser obtidas ao alcance do teclado, antes dos lançamentos, como ocorreu com "Tropa de Elite" e outros mais.

As mudanças já chegaram também à televisão, ante a hibridização entre TV e internet, com aparelhos já disponíveis pela Google – ainda com preços proibitivos para a população de baixa renda. No Brasil, o meio deve passar pela mesma depressão que o rádio nos anos 60, quando Chateaubriand inaugurou o primeiro canal televisual.
A programação arbitrária da televisão deve dar lugar a programas acessados ao gosto da audiência, conforme tempo de sua agenda. No final, haverá o convívio com a televisão tradicional e a teleinternet, o mesmo que deve ocorrer com o livro, E-books.

Texto publicado pelo Jornal O Estado de São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2010.

Blockbuster à beira da falência

Por Tatiana de Mello Dias

A Blockbuster já foi arrasa-quarteirões. Surgida nos EUA em 1985, logo se tornou a maior locadora de filmes do mundo. Chegou ao Brasil em 1995 e cumpriu a promessa do próprio nome: distribuir grandes sucessos de Hollywood e se tornar a maior locadora de muitos bairros.
Mas os tempos áureos acabaram. A crise começou em 2004. As Lojas Americanas compraram a operação da rede brasileira da Blockbuster em 2007, ao mesmo tempo em que as locações minguavam. As grandes lojas se tornaram apenas um balcão entre vários produtos. Nos EUA, a Blockbuster fechou mais de 1000 lojas só no ano passado.
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E, agora, a notícia é a de que a rede Blockbuster se prepara para a falência. Claro que a pirataria e o compartilhamento ilegal de filmes têm sua parcela de culpa nessa história, mas a Blockbuster também não conseguiu segurar a batalha contra as gigantes de locação online Netflix e os quiosques de locação Redbox.
Quem divulga a história é o Los Angeles Times, que diz que a empresa deve decretar falência em meados de setembro.
Na semana passada o chefe-executivo da empresa, Jim Keyes, saiu da sede em Dallas para se encontrar em Los Angeles com executivos de grandes estúdios como 20th Century Fox, Warner Bros. Paramount Pictures, Universal Pictures, Walt Disney Studios e Sony Pictures. A intenção era conseguir ajuda para compensar as perdas de US$ 1,1 bilhão em 2008, e a dívida de US$ 920 milhões, além de ajudar na reestruturação da empresa.
Mas a falência prevista para setembro é o cenário mais previsível, diz o LA Times. Seria uma falência pré-planejada, que ajudaria a empresa a escapar do caro aluguel de suas lojas que têm tido um péssimo desempenho. A outra opção seria convencer um investidor a custear a reestruturação da empresa. A esperança da Blockbuster são pequenos quiosques como os RedBox, que alugam DVDs por US$ 1 por noite, e também aluguéis digitais, um nicho que tende a crescer com a melhoria da velocidade das conexões.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

FOLHA E LULA

A mídia tem grande importância no fluxo de informação que permite o homem moderno ter contato com os fatos, portanto, é imprescindível para a formação da opinião pública e espírito crítico. Entretanto, há em determinados momentos inversão de valores, e ao invés de ser um meio noticioso torna-se ponta de lança de partidos políticos, com o intuito de defender interesses de grupos sociais em detrimento do interesse da leitor, que nesta ordem se transforma em simples consumidor de notícias.

Com razão ou não, sendo fiel ao ocorrido ou não, o presidente Lula ao longo dos anos reclama da forma que foi tratado pelo diretor de redação do jornal paulista em almoço com redatores em 2002, conforme texto abaixo, publicado pelo próprio jornal. Infelizmente, o comportamento do diário nestes eleições, declaradamente partidário leva a imaginar a existência da atitude de preconceito. 

Texto publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo, 26 de agosto de 2010.

Lula critica Folha e diz que sofreu preconceito
Em comício, presidente cita almoço que abandonou após ser questionado sobre alianças

DO ENVIADO A CAMPO GRANDE
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou anteontem a imprensa em comício em Campo Grande (MS) ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima de preconceito da mídia que, segundo o presidente, não acreditava que ele seria capaz de governar por não ter curso universitário e por não saber falar inglês.
"Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: "Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?" Eu disse não. "Como é que você quer governar o Brasil se não fala inglês?" Eu falei: "Mas eu vou arrumar um tradutor". "Mas assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês". E eu perguntei para ele: "Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?", afirmou.
"Eles achavam que Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu me senti chateado e levantei da mesa. E falei: "Não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Se é entrevista eu vou embora". E levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora."
Lula afirmou ainda que vai terminar o mandato "sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão". "Também nunca faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com respeito comigo. (...) Se dependesse de determinados meios de comunicação, eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós temos neste país."
O episódio ao qual Lula se referiu ocorreu em 2002, quando ele, então candidato à Presidência, se retirou de um almoço com diretores e editores da Folha na sede do jornal. O petista se irritou com duas perguntas feitas pelo diretor de Redação, Otavio Frias Filho.
Frias Filho perguntou a Lula se ele havia se preparado intelectualmente nos últimos 20 anos para credenciar-se a ocupar a Presidência. O então candidato negou-se a responder a pergunta, alegando que era preconceituosa. O jornalista manifestou estranheza com a recusa.
Pouco depois, o diretor de Redação voltou a interpelar Lula sobre a aliança do PT com o PL, que o jornalista qualificou de linha auxiliar do malufismo. Em meio à resposta de Lula, Frias Filho voltou a questioná-lo, afirmando que sua explicação era evasiva. Nesse momento Lula levantou-se e deixou o encontro, acusando o diretor do jornal de estar a serviço de outra candidatura, numa alusão ao tucano José Serra.

RÉPLICA
Para Frias Filho, "a memória do presidente anda ruim ou ele está distorcendo o episódio de propósito". De acordo com o diretor da Folha, no almoço a que Lula se refere o então candidato "não foi interpelado sobre falar ou não inglês, mas sobre sua política fisiológica de alianças e sobre o fato de ostentar desprezo pelo estudo mesmo depois de se tornar um líder nacional". Frias diz que o incidente foi assim noticiado pela própria Folha no dia seguinte, sem contestação de Lula.



CLÓVIS ROSSI

Lula inventou uma fábula SÃO PAULO - Para não dizer que o presidente Lula mentiu sobre o que aconteceu no almoço de 2002 nesta Folha, em que se sentiu discriminado, digamos que ele contou uma fábula, com escasso parentesco com a realidade.
Para começar, o único presidente norte-americano que frequentou a conversa não foi Bill Clinton, jamais mencionado, ao contrário do que diz Lula, mas Abraham Lincoln. Foi Otavio Frias Filho, diretor de Redação, quem lembrou que Lincoln também não tivera educação superior, o que não impediu que fizesse um bom governo.
Depois dessa observação nada discriminatória, Otavio perguntou por que Lula não se preocupou em estudar mais, depois de ter se estabelecido na vida, como dirigente sindical primeiro e como líder partidário depois.
Lula não respondeu nada, ao contrário da fábula que conta agora. Limitou-se a dizer que se sentia desrespeitado e que, por isso, não responderia. A conversa ainda transitou por outros temas durante um tempo até que Otavio voltou a perguntar, agora sobre a ligação do PT com o fisiologismo.
De novo, Lula não respondeu, a não ser para dizer que não tinha culpa de que não estivesse bem nas pesquisas o candidato do diretor de Redação (do qual não deu o nome). Levantou-se e foi embora.
A reação do então candidato foi tão mais estranha porque, dias antes, Miriam Leitão fizera pergunta parecida e Lula dera uma resposta esperta: nenhuma universidade prepara alguém para ser presidente da República.
O que incomoda nesse episódio não é ele em si, menor. É a fabulação que o presidente faz em torno do que aconteceu. Por acaso, eu estava no almoço e sei perfeitamente o que se disse e o que não se disse. Como posso confiar em que Lula não fabula também ao relatar encontros com políticos ou governantes estrangeiros?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Os governos da América Latina resolveram enfrentar as grandes empresas de comunicação locais, sendo que muitos deles têm participação de grupos estrangeiros que usam os veículos para influenciar política nacional. Na Argentina, a luta entre governo e jornais se arrasta nos últimos anos, com debate acirrado e enfrentamentos.

Neste momento a presidente Cristina Kirchner quer reduzir o poder das das empresas de distribuição de papel, ligadas aos jornais Clarin e Lación, que comanda mais de 70% do produto comercializado no país.

Texto publicado pelo Jornal Folha de S. Paulo, 25 de agosto de 2010.

Argentina quer controlar papel-jornal
Presidente Cristina Kirchner diz que enviará projeto transformando insumo em setor "de interesse nacional"

Em guerra com a mídia, governo tentará anular compra de fábrica pelos jornais "Clarín" e "La Nación" nos anos 70



Marcos Brindicci/Reuters

Cristina Kirchner, durante o anúncio, sob quadro do ex-presidente argentino Juan Perón

GUSTAVO HENNEMANN DE BUENOS AIRES Em guerra com a imprensa de seu país, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem que apresentará um projeto de lei para transformar a produção e a comercialização de papel-jornal em setor "de interesse nacional".
A intenção do governo é criar um marco regulatório específico, que estabeleceria uma comissão parlamentar para fiscalizar as operações da empresa Papel Prensa, única produtora nacional de papel-jornal.
Conforme as normas sugeridas por Cristina, a fábrica seria obrigada a oferecer as mesmas quantidades e preços a todos os jornais do país.
A Papel Prensa produz três quartos do papel-jornal consumido no país e é parcialmente controlada pelos jornais "Clarín" (com 49% das ações) e "La Nación" (22,49%), críticos do governo. Outros 27,46% são do Estado argentino.
O governo acusa os dois jornais de exercerem hegemonia no mercado por terem vantagens competitivas, como preço e disponibilidade, sobre os demais veículos.
O projeto de lei também quer estimular o aumento da produção nacional para que a Argentina não precise mais importar papel-jornal.
Segundo Cristina, o Estado, como sócio minoritário, está disposto a investir na Papel Prensa para aumentar sua capacidade, mas sem aumentar sua fatia do capital.
No mesmo evento, Cristina afirmou que processará os dois jornais por crimes contra a humanidade supostamente vinculados à negociação da participação na Papel Prensa, nos anos 70.
A presidente apresentou ontem um relatório que acusa os dois veículos de terem comprado sua parte, em 1976, com ajuda do regime militar.
Conforme o governo, os membros da família Graiver -antigos sócios majoritários da Papel Prensa- eram perseguidos e sofriam pressões dos militares na época em que transferiram suas ações.
Segundo Cristina, o consórcio formado por "Clarín", "La Nación" e "La Razón" (este último extinto) se aproveitou da fragilidade da família para comprar as ações e pagou um valor quatro vezes menor à cotação de mercado.
Apenas cinco dias depois de assinar o último contrato de venda, a matriarca da família Graiver, Lidia Papaleo, foi presa e acusada de subversão.
Hoje, Papaleo afirma que foi pressionada por executivos dos jornais e por militares para que vendesse as suas ações.
O documento lido ontem pela presidente será apresentado à Justiça junto com a denúncia de crimes contra a humanidade para tentar anular a negociação.
Em editoriais ontem, os jornais afirmaram que o governo está "inventando uma história" para se apropriar da Papel Prensa e, assim, aumentar seu controle sobre os meios de comunicação. Hoje, 170 jornais do país compram o papel da empresa.
Os dois veículos dizem que os membros da família Graiver só começaram a ser perseguidos seis meses após a transação.
O regime os prendeu e torturou depois de descobrir que eles administravam o dinheiro da guerrilha argentina Montoneros.
Segundo os dois jornais, Papaleo foi cooptada pelo atual governo e alterou sua versão anterior dos fatos, que nunca havia vinculado a venda da empresa à repressão militar.
Há mais de um ano, o "Clarín" e o "La Nación" afirmam que Cristina quer se apropriar da fábrica de papel-jornal e que seus funcionários cometem abusos em reuniões da direção da empresa.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Governo brasileiro anuncia investimento em TV digital pública, o que deve melhor a qualidade das transmissões e permitir mais informação aos brasileiros.. Entretanto, de início o projeto leva as empresas do setor a se organizarem em consórcios, de olho nas verbas estatais. Texto publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, em 5 de agosto de 2010.
 
Governo quer grupo nacional na TV digital
Planalto estimula a participação de empresas nacionais em leilão para construção de torres para a rede pública. Edital está em fase final de elaboração e deve ser enviado para o TCU nos próximos dias; leilão deve ser em novembro.

LEILA COIMBRA
LARISSA GUIMARÃES
DE BRASÍLIA
O governo prepara um leilão para a construção da infraestrutura da rede pública de TV digital, um contrato de R$ 2,8 bilhões por 20 anos a ser gerido pela estatal EBC (Empresa Brasileira de Comunicação). A licitação prevê a construção, pela iniciativa privada, de 256 torres de transmissão de sinal digital de TV em todo o país.
E já atraiu a atenção de grandes multinacionais de tecnologia, como a americana Cisco, a francesa TDF e a japonesa Marubeni, que articulam consórcios com construtoras nacionais como Engevix, OAS e Andrade Gutierrez, para as obras civis.
As torres, apesar de públicas, poderão abrigar antenas de emissoras privadas, sob pagamento de aluguel.
A preocupação do Palácio do Planalto é incluir nesses consórcios empresas nacionais de tecnologia para conter o avanço das gigantes estrangeiras numa área estratégica e fomentar a indústria nacional de TV digital.
O Brasil adotou um padrão de TV digital híbrido, baseado no japonês, mas que ainda não possui escala de venda interna e tampouco em mercados externos que tenham provocado o desenvolvimento do parque industrial nacional. Sem forças para fazer frente às múltis, a indústria local procura acordos com a bênção do governo.
Sob coordenação da Casa Civil, a Marubeni já fechou pré-acordo com a nacional Linear, fabricante de transmissores com sede em São Paulo, mais a Engevix, para formação de um consórcio.
Outra japonesa, a NHK, também deverá integrar o grupo. Outra empresa nacional, a mineira STB (Superior Technologies in Broadcasting), conversa com os franceses da TDF e com os executivos americanos da Cisco. Outras empresas brasileiras, como a Telavo e a Tecsys (ambas de SP), conversam com a italiana Screen Service Technologies e a sueca Ericsson.
A participação de empresas nacionais nos consórcios é fator primordial para o acesso ao empréstimo do BNDES. O chefe de telecomunicações e fontes alternativas da área de infraestrutura do BNDES, Alan Fischler, explica que a instituição financia apenas a compra de equipamentos nacionais na área de telecomunicações, e os consórcios têm interesse nos recursos do banco.

MODELO
O modelo de empréstimo para o projeto ainda não foi definido, segundo Fischler, mas poderá cobrir em média 70% do valor total.
O edital está em fase final de elaboração no Ministério do Planejamento e deve ser enviado ao Tribunal de Contas da União nos próximos dias. O objetivo, segundo o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, é que a versão final saia até setembro para que o leilão ocorra em novembro ou dezembro.
O projeto do Operador Único da Rede Nacional de TV Pública Digital inclui, além da EBC, as TVs do Executivo (NBR), do Legislativo (Câmara e Senado), do Judiciário (TV Justiça) e a TV Brasil, que exibirão seus programas em tecnologia digital.
As 256 torres serão distribuídas em todo o país. A principal delas, a operadora nacional de rede, ficará em Brasília. Haverá outras 48 torres em capitais e cidades de grande porte. As demais ficarão em municípios com cerca de 200 mil habitantes.

Redes sociais e o mercado

As novas tecnologias promovem mudanças na comunicação social, pelo menos no mercado publicitário, no qual as redes sociais recebem atenção das grandes empresas globais. Texto publicado pela Folha de S. Paulo, em 5 de agosto de 2010.

Cresce busca por analista de mídia social
Empresas criam times para monitorar e interagir com Facebook, Twitter e Orkut; Brasil está entre mais sociáveis. Grupo Pão de Açúcar investe R$ 10 milhões em núcleo digital; empresas recorrem a agência de comunicação.

GABRIEL BALDOCCHI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A liderança mundial do Brasil em audiência nas mídias sociais criou uma demanda por analistas dessas redes em várias empresas.
Três pesquisas feitas no Brasil sobre a área apontaram que as mídias sociais, como Facebook, Twitter e Orkut, estão presentes em 70% das empresas.
O levantamento da consultoria Delloite com 302 companhias mostrou que 55% delas recorreram a um profissional para cuidar exclusivamente das mídias sociais.
Doze empresas responderam ainda ter mais de cinco profissionais escalados para cuidar dos programas virtuais. Um levantamento feito a pedido Folha ao portal Catho encontrou 128 vagas para a função, com faixa salarial de R$ 510 a R$ 2.700.
O número representa crescimento de 60% em relação ao começo do ano. As vagas do site são uma fração do mercado, já que as mídias sociais são usadas como ferramenta de recrutamento e muitos postos são preenchidos por meio dele.
No Grupo Pão de Açúcar, o reconhecimento da relevância do tema foi oficializado com a criação de uma área específica, em fevereiro. O núcleo GPA Digital tem seis profissionais e prevê investimentos de R$ 10 milhões até o final do ano.
"Com o crescimento das redes de relacionamento e a evolução da forma como as pessoas se relacionam com as empresas e marcas, entendemos a necessidade de promover uma maior interação do grupo com o meio digital", declarou o vice-presidente do grupo, Hugo Bethlem, sobre a área de mídias sociais.
Medição feita pelo Ibope Inteligência em parceria com Worldwide Independent Network of Market Research apontou o Brasil como um dos dez países mais "sociáveis" do planeta. Programas de relacionamento alcançam 87% dos quase 37 milhões de usuários ativos.

LUCRO NA DELL
O argumento que fundamenta maior mobilização de profissionais na área é o reflexo de resultados de ações com as ferramentas, como o anúncio da Dell americana de que promoções no Twitter geraram lucro de US$ 6,5 milhões.
As agências de comunicações também faturam com a demanda. No escritório da agência Digital, o número de analistas de mídias sociais saltou de apenas um em 2007 para os 19 atuais.