domingo, 30 de maio de 2010

Fim dos Democratas?

Muito criticada pelos críticos ligados ao governo federal, Eliane Cantanhêde, que em vários artigos se posiciona a favor dos tucanos, descreve em sua análise de domingo a situação difícil do DEM se Dilma Rousseff vencer as eleições presidenciais deste ano. Sem dúvida na América Latina há movimentos no sentido de maior participação social nos desígnios políticos dos países. Muitos partidos considerados de direita vêm perdendo terreno no universo eleitoral, como exemplo no Brasil, a redução dos democratas e pepebistas. Não é sem razão a defesa dos candidatos brasileiros que, mesmo sendo de direita, se posicionam como sendo de esquerda, muitas vezes favorável a uma independência em relação aos países centrais - leia-se Estados Unidos. No pano de fundo está o desejo da população para representantes voltados para a realidade cotidiana, ou seja, as dificuldades do dia a dia, apesar das riquezas aparentes globais. Texto publicado pela Folha de S. Paulo, dia 30 de maio.

Eventual vitória de Dilma vai resultar no enterro do DEM
   ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA
Na contabilidade da oposição, uma eventual vitória de Dilma Rousseff em outubro vai somar 20 anos do PT na Presidência e resultar no enterro do DEM. Aliás, do DEM e do PPS, com sérias avarias no PSDB.
Eis a aritmética em caso de Dilma vencer: Lula oito anos, Dilma mais quatro, a volta de Lula para mais oito.
O que está em risco é a sobrevivência da oposição, pelo menos da oposição tal como configurada nestas eleições. E, com vitória ou com derrota, a palavra "fusão" corre solta entre os oposicionistas, para gerar um novo partido, mais competitivo.
O DEM foi criado como PFL em 1985, no rastro da dissidência do PDS (partido da ditadura, originário na Arena) que apoiou as Diretas Já e o oposicionista Tancredo Neves (PMDB).
A evolução do processo político após a ditadura não acolheu as siglas "de direita", espectro do PFL e agora do DEM. Assim, seus primeiros líderes não tiveram condições de concorrer à Presidência da República, a não ser em 1989, e transformaram o partido em linha auxiliar do PSDB.
Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL na maior parte da vida do partido, encerrou a carreira política; Marco Maciel (PE) teve seus oito anos de glória como vice de Fernando Henrique Cardoso (PSDB); o baiano Antonio Carlos Magalhães, que sempre andou em faixa própria, muitas vezes na contramão dos caciques, morreu em 2007.
A segunda geração, no DEM, demonstra inexperiência política e falta de instrumentos para disputar a linha de frente, seja a Presidência, sejam os governos estaduais.
O presidente é Rodrigo Maia (filho de César Maia, ex-prefeito do Rio). O ex-líder na Câmara era ACM Neto (neto do cacique baiano). O atual é Paulo Bornhausen (filho do ex-presidente do PFL). Os sobrenomes ficaram, mas a força política murchou.
Na geração intermediária, a resistência está ainda no Nordeste: senador José Agripino Maia (RN), deputado José Carlos Aleluia (BA), ex-governador Paulo Souto. Nada no Rio de Janeiro, em Minas, em São Paulo.
As maiores esperanças eram José Roberto Arruda, governador do DF, e Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo. Arruda saiu da política para a cadeia na crise do mensalão do DEM. Kassab foi um bom candidato, mas é um prefeito sob críticas.
O DEM, agora, só tem uma alternativa: a vitória ou a vitória de José Serra. Do contrário, vira coisa do passado.

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